sábado, 26 de maio de 2012

Uriel


                                                                      





Neste momento o corte das laminas pareceriam cócegas. O mais amargo veneno pareceria algodão-doce colorido de criança. O ranger daquele velho e vazio balanço seria melodia aos meus ouvidos. Aquela vontade de não existir não é o que mais sinto de ruim agora, mas a vontade que tive de fazer alguém sumir que foi o mais ruim. Torturar com a verdade, armar um quarto com fotos, vídeos, sensações, lembranças da ilusão que tu vives, que criaram só para não ver a bonequinha chorar. Vontade de ter seu sangue escorrendo pelas minhas mãos e pelo chão, vontade de arrancar toda a tua energia vital até que desmaie, iria gargalhar muito gostoso quando te visse ali ao chão como bonequinha largada. Sentiria orgasmos de ouvir "Eu desisto, acabou para mim, faça o que tu queres, vivam como quiserem, não vou mais impedir, não vou mais discutir, não vou mais prender".
Fico admirada com minha raiva, minha vontade imensa de executar minhas ilusões de dores que criei especialmente para esta criatura que deseja ser pura.
No meu quarto tentando fazer esta sombra má se calar, tentando colocar a mordaça neste lobo raivoso, chorei, chorei muito, pois ainda não aceito este lado do meu lobo. Virada na cama com a cabeça para o lado de fora fazendo com que ela fique de cabeça para baixo meu cabelo alcançada o chão e o sentia balançar. Ao meu lado aquela foto. Na minha mente aquela imagem. Chorando pesso proteção, proteção dos meus próprios desejos.
Cheguei em um estado que já não sabia mais se estava dormindo ou acordada, mas ainda ecoava no silencio da minha mente "proteja-me, proteja-me, proteja-me do que quero". Repentinamente vejo um moço, pele marfim. Seu rosto não conseguia ver, não era bem definido, tinha uma luz tão forte que não conseguia ver a cor de seus olhos. Estatura média corpo definido, com apenas uma calça branca e um bracelete dourado em seu braço. Intuitivamente sorri. Ainda o olhando de cabeça para baixo ele se aproximou, sentou-se ao lado de minha cama ficou com o rosto perto do meu ouvido e colocou meu cabelo em sua pernas que estavam cruzadas. Brincava de colocar os dedos no meu cabelo da raiz até as pontas. Em minha cabeça ainda ecoava "proteja-me, proteja-me, proteja-me" Ele respondia aos meus ouvidos "protejo-te, protejo-te, protejo-te", ouvia sua voz e seu hálito aos meus ouvidos, era um sopro gelado, mas bem sutil. As lagrimas caiam e ele ainda brincava com meu cabelo. Via em seu pulso uma serpente tattuada, uma linda serpente dourada.
E vem a estranha pergunta em minha mente "Por que sumiu desde os meus 7 anos? Te chamei por tanto tempo. Quero estudar e conhecer sua complexidade." Ele respondia ao meu ouvido "Me chamou, mas não chamou com o sentimento, me chamou pelo simples fato que querer me ver aparecer para ver se era verdade, duvidou de minha existência por muito tempo, assim como duvidou da existência daquelas que se fazem presentes neste quarto hoje em dia". O engraçado que eu não precisava dizer nada, era apenas pensar. Perguntava "E por que veio agora?", respondia com seu hálito fresco: "Por que fez com que seu sentimento me chamasse, por que realmente precisava de mim ao seu lado e não importava se me veria ou me sentira, só pedia. Em sonho passado revelei meu nome, não querias saber tanto?!" Pensei em um lindo nome que havia descoberto a pouco tempo e ele continuou a falar: "Não, este é um nome terreno. Vindo de onde vim, mas este não é meu nome", logo me veio na cabeça um outro nome, um mais curto, um que me lembrava firmeza da Terra e neste momento ele fez o sim com a cabeça. Então eu o chamava e pedia para que me protegesse, já estávamos falando em outra língua. Foi quando eu deitei de costas para cima e chorava. Ele deitou por cima de mim, como se me cobrisse por inteira, suas mãos se entrelaçavam nas minhas. Ele dizia "vou te levar a um lugar, você precisa muito", minha cabeça vazia, mas sentia meu corpo molhado, quando abri os olhos dei conta que estava dentro da água, meu corpo boiava, mas eu estava com a cabeça voltada para a água. Sentia afundar, afundava, afundava e afundava, parecia que algo me empurrava para baixo. Comecei a ficar sem ar e querer voltar, mas não conseguia, parecia que aquele oceano não tinha mais fim, eu afundava e ficava cada vez mais escuro e o ar faltava, já estava em desespero, era agonizante. Cai deitada na areia do fundo daquele oceano, abri os olhos e o vi ali. Me puxou pelos pés e me empurrou para cima, eu subi muito rápido e assim que cheguei a superfície enchi o máximo que pude meus pulmões com todo ar, nadei ate a beira. Sentei, respirei, por um segundo me senti aliviada e purificada. Ao meu lado direito rastejava uma grande cobra, linda e dourada, um pouco abaixo de sua cabeça tinha uma espécie de coleira dourada também. Segui aquela cobra e pisei em um buraco que cai profundamente. Senti medo e novamente em minha cabeça ecoava "proteja-me, proteja-me, proteja-me". Logo apos a voz dele "Protejo-te, protejo-te, protejo-te". Abro os olhos, estou de volta ao meu quarto, do jeito que estava antes, de cabeça para baixo. Olho para meu apanhador de sonhos e vejo suas penas balançarem sem ter vento nenhum no quarto. Viro na cama, fico do lado da parede e volto a dormir.
Fenerella Enid.

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